Apesar, da infância feliz, havia uma ânsia de espírito muito diferente da que vivia, alargar horizontes, aquilo que a aldeia rural limitava. Lisboa, foi então a pátria adotiva escolhida.
Como qualquer criança, sonhava, em poder ter um quarto cor de rosa, recheado de bonecas, com novos amigos e novas brincadeiras. Tudo era novo e digno de fascínio, o mar, o comboio, toda uma panóplia de monumentos até então só vistos nos parcos canais televisivos ( na altura 4 apenas).
Mas o que esperava, era o oposto do projectado!
Onde estava o quarto? As bonecas?
Para além dos bens materiais, havia algo mais importante que faltava; o carinho e União familiar. E essa ausência era, de todo, a que mais doía.
O ambiente familiar, esse ia diminuindo com a convivência diária, chegando a ser claustrofóbico. Apenas, 3 pessoas numa casa e tão pouco em comum. Duas delas unidas pelo sangue ( mãe e filha), a terceira pelo matrimônio ( padrasto).
Ele, um homem robusto, tímido por natureza, mas simpático e afável, em suma, um homem que vive dentro do seu próprio mundo e que só se abstrai quando é necessário.
Ela, uma mulher roliça, com sentimentos definhados pelo egoísmo, vinculada pela crueldade e de uma frieza inimaginável.
Será que no lugar do coração tem uma pedra?
A criança, era apenas uma criança! Com sonhos e com desejo de ter sua família; de apenas viver o resto da sua infância em plenitude.
Infância de amor e carinho, foi algo que nunca se viveu, antes pelo contrário. Os gritos, a pancada, o controlo excessivo, eram o dia a dia.
Hoje , nunca teria saído da aldeia, onde os bens eram parcos, mas o amor era em abundância.
A vida tinha de continuar, a esperança acalentava a dor!
Nestas circunstâncias, a criança depressa cresceu, planear o seu futuro fazia parte da sua rotina diária. Teria de sair, mudar ou até mesmo fugir, as forças já eram limitadas e fracas para tanta retaliação.
Todo o sentido da vida que se seguiu, foi devido aos sentimentos criados antes? Eu diria que sim! O apego a quem dá carinho e amor é indiscutivelmente maior, pois até então era inexistente. O percurso acadêmico, teria sido louvável? Sim teria, se não fosse a vontade de fugir de um lar caótico. A vida era prazerosa? Sim era, se não fossem as sombras do passado assombrar o presente.
Tudo seria diferente? Sim, porque os sentimentos e as vivências guiam o sentido da vida.
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